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Investigação no feminino: uma causa defendida pelo ISAVE

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Investigação no feminino: uma causa defendida pelo ISAVE

Segundo as Nações Unidas, Ciência e Igualdade de género são vitais para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Foi com este objetivo que a ONU proclamou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado a 11 de fevereiro. Este ano, o ISAVE – Instituto Superior de Saúde não quis deixar passar a data em branco, dando destaque às investigadoras que, diariamente, promovem e divulgam a investigação no domínio das ciências da saúde.

Reativado em 2016, o CICS – Centro Interdisciplinar em Ciências da Saúde é o centro de investigação através do qual o ISAVE realiza muita da sua investigação associada nos domínios das ciências de base, ciências da enfermagem, ciências da fisioterapia e ciências da dietética e nutrição.

Lígia Monterroso, Mafalda Duarte, Ana Sofia Soares, Sílvia Rodrigues, Helena Areias, Daniela Gonçalves

Ser mulher e investigadora

Com percursos de vida distintos e áreas de investigação diferentes, as seis investigadoras do CICS têm, ainda assim, vários pontos em comum: são mulheres, com um papel ativo na mitigação de estereótipos e desigualdades de género.

Considerando o contexto global, a desigualdade de género, é um grande desafio com que nos deparamos e um dos mais relevantes no que se refere a direitos humanos”, começa por afirmar Ana Sofia Soares. Para a docente, o esforço acrescido das mulheres tem vindo a esbater a desigualdade de género que se observa em todo o mundo – “Se é verdade que a diferença de acesso, tratamento, remuneração, de oportunidades é cada vez menor, não é menos verdade que isso se deve mais à resiliência feminina do que à existência e aplicação efetiva de mecanismos de correção de desigualdades por parte das entidades públicas e privadas que atuam no contexto do ensino e da investigação”.

Responsabilidade de cuidar

A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género revela-nos que há mais mulheres do que homens a deixar de procurar ativamente trabalho, por terem de cuidar de crianças ou de pessoas adultas incapacitadas ou por outras responsabilidades familiares.

Por sua vez, no que ao trabalho doméstico diz respeito, as tarefas continuam a recair maioritariamente sobre as mulheres. Os dados revelam-nos que 65% das mulheres são responsáveis pela preparação das refeições diárias; 59,3% é responsável pela limpeza da casa e 77,8% pela lavagem e cuidado da roupa. Relativamente à distribuição das tarefas de cuidado aos filhos, a participação dos homens faz-se sentir, mas continua a haver uma prevalência da responsabilidade das mulheres: 64,7% é responsável por vestir os filhos pequenos, 45,3% assume a tarefa de deitar ou controlar a hora de deitar dos filhos pequenos e, nos casos em que os filhos adoecem, 63,7% das mulheres fica em casa para cuidar deles, enquanto apenas 9,3% dos homens assumem esta responsabilidade.

Helena Areias é investigadora e doutorada em Sociologia. Acredita que a discriminação com base no género é um tema presente na agenda coletiva, contudo “de forma, muitas vezes, inconsciente atribui-se à mulher menos disponibilidade para o trabalho, dadas as tarefas que implicam a maternidade a gestão da vida doméstica em geral, fatores que, genericamente, diminuem as oportunidades“.

Sílvia Leite Rodrigues, para além de fazer investigação em Saúde Materna, Obstetrícia e em Enfermagem, é também mãe. Partilha as mesmas preocupações que as colegas, sobretudo no atual contexto pandémico: “conciliar o teletrabalho com o apoio aos filhos em regime de aulas online influenciam a capacidade de concentração e a capacidade de produção científica como investigadora. Por outro lado, as condições adversas podem propiciar o desenvolvimento de estratégias e ferramentas no sentido de atingir os objetivos como investigadora.”

Foi o caso de Daniela Gonçalves, que contornou os desafios da maternidade de modo a não condicionar demasiado o seu trabalho como investigadora. “Ser mãe, condicionou-me o trabalho de investigação, em particular as inúmeras horas numa bancada de laboratório”. Doutorada em Ciências Farmacêuticas, com especialização em Microbiologia, Daniela ultrapassou esta aparente limitação, organizando o seu tempo em casa de outra forma: “Aproveitei para escrever. A escrita é fundamental na investigação”, confessa.

Lígia Monterroso, para além do trabalho de investigação na área da enfermagem comunitária, é também Professora Coordenadora do Curso de Enfermagem do ISAVE – Instituto Superior de Saúde. Para a investigadora, ser mulher e mãe condiciona o seu trabalho de investigação: “Às vezes dou por mim a pensar que, se não enveredasse por este caminho, não teria uma vida tão complicada e com tantas dores de cabeça, ao mesmo tempo a vontade de fazer algo de diferente motiva a continuar e a ser cada vez mais e melhor”. O seu também papel de mãe condiciona os seus resultados, pois, diz-nos, “sinto o peso da responsabilidade de ser um exemplo de perseverança e de sentido de responsabilidade, de não falhar, saber gerir o stress e as frustrações que as algumas vezes está implícito nos desafios do trabalho”. Contudo, Lígia Monterroso encara os desafios familiares como “um reforço positivo na obtenção de melhores resultados”. 

Lígia Monterroso

Existe discriminação de género na comunidade científica?

O exemplo do CICS

O boletim estatístico de 2021, relativo à igualdade de género em Portugal, diz-nos que os homens estão mais centrados nas atividades de investigação e desenvolvimento nas ciências da engenharia e tecnologias e as mulheres mais representadas nas ciências médicas e da saúde, onde a taxa de feminização é de 65,5%.

Fonte: Igualdade de Género em Portugal: Boletim Estatístico 2021; CIG – Novembro, 2021

O CICS – Centro Interdisciplinar em Ciências da Saúde reflete esta predominância feminina na área da saúde, onde nos 10 investigadores que compõem a comissão científica, 6 são mulheres.

João Neves Silva é docente no ISAVE, tendo assumido a presidência do CICS em 2019. Enquanto homem e investigador com papel de decisão na instituição, não hesitou em associar-se à iniciativa da ONU, destacando “o papel das mulheres na ciência, com especial ênfase nas investigadoras doutoradas da instituição”.

Reativado em 2016, o CICS é o centro de investigação através do qual o ISAVE realiza muita da sua investigação associada nos domínios das ciências de base, ciências da enfermagem, ciências da fisioterapia e ciências da dietética e nutrição. Além de 2 dos 3 anteriores Presidentes do CICS terem sido mulheres (Mafalda Duarte e Liliana Rodrigues), o centro de investigação compreende um conjunto de excelência de investigadoras doutoradas nas áreas de psicologia, sociologia, ciências farmacológicas e ciências da enfermagem. Dos 5 projetos de investigação atualmente alocados no CICS, 2 apresentam como investigadores principais mulheres. Do mesmo modo, mais de 50% das publicações associadas ao CICS em revistas indexadas com fator de impacto no último ano, tiveram como coautores, investigadoras femininas do centro.

Ainda assim, olhando para o panorama genérico da comunidade científica, “apesar de algumas áreas científicas serem ocupadas maioritariamente por mulheres, continua a existir desigualdade no acesso a cargos de direção”, diz-nos Sílvia Leite Rodrigues.

Mafalda Duarte

No que toca a possíveis constrangimentos dentro do meio, Mafalda Duarte realça o preconceito que existe associado ao papel da mulher, associada sobretudo ao contexto familiar. Este estereótipo, somado ao facto de que um percurso académico exige tempo e dedicação, levou a investigadora e Vice-presidente do ISAVE, a pensar, em alguns momentos, “que realmente eu podia estar equivocada no caminho que estava a percorrer. (…) O facto de ser mulher, associado à questão da idade, em alguns momentos exacerbou em larga escala algumas destas ideias, na medida em que grande parte da comunidade científica afeta à minha área de estudo era composta por Professores (homens) e com idades superiores à minha”.

Ana Sofia Soares, investigadora na área das Ciências da Psicologia, admite que ser mulher já representou um constrangimento pessoal. “Infelizmente assistimos diariamente a situações em que pessoas, dos mais diversos géneros, são alvo de comportamentos, muitas vezes escondidos e dissimulados, que têm como denominador comum a questão do género. Infelizmente, não sou uma exceção”, admite.

Rumo à Igualdade

A Investigação no ISAVE

Foi com total recetividade que o ISAVE, em particular o CICS, encarou o desafio de se associar à ONU, nas comemorações do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

Apesar do fenómeno da desigualdade ser transversal a todas os géneros e áreas de ação, o ISAVE destaca-se pela promoção de um ambiente igualitário e respeitador entre a sua comunidade.

Este espírito é intrínseco aos seus docentes e investigadores, cujo principal objetivo é contribuir para consciencialização dos seus alunos para estas questões. “É essencial um tratamento igualitário dos cidadãos. Sim, o objetivo final só será alcançado quando se deixar de falar de género e adotarmos, definitiva e irreversivelmente, o conceito de cidadania plena, em que o mérito, competência e ética individual serão os fatores diferenciadores no acesso aos lugares de investigação”, diz-nos Ana Sofia Soares. A docente destaca ainda a promoção de uma política de igualdade de género por parte da instituição, o que resulta num corpo administrativo, docente e de alunos em que predominam todos os géneros, “em que homens e mulheres dispõem das mesmas condições, nomeadamente, de acesso e valorização profissional”.

Helena Areias partilha a mesma opinião, afirmando que “a perpetuação de estereótipos, práticas e convicções de natureza cultural prejudiciais à mulher, não as sinto no ISAVE diretamente”.

Mafalda Duarte encara com otimismo a mudança de paradigma que se sente – “é com muito orgulho e convicção que tenho plena noção de que contribuí (enquanto mulher) para tal”.

Daniela Gonçalves em contexto laboratorial

Relativamente à Investigação, os números mostram-nos que homens e mulheres estão cada vez mais próximos no que à presença científica diz respeito. No entanto, há ainda um longo caminho pela frente, sendo importante o contributo de todos para que a igualdade de oportunidades se sinta. Pois, tal como afirma Daniela Gonçalves, “todos podemos ocupar um lugar na investigação. Todos conseguimos demonstrar as nossas capacidades, dinâmicas, iniciativas e projetos. Existe espaço para todos/as na investigação”.

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