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(I)literacia em Saúde: seminário oportuno e provocador do ISAVE

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(I)literacia em Saúde: seminário oportuno e provocador do ISAVE

Oportuno e provocador: foi assim que alguns participantes definiram o seminário “Literacia em saúde” que decorreu no Fórum Rodrigues Sampaio, numa iniciativa conjunta do ISAVE  —Instituto Superior de Saúde e Câmara Municipal de Esposende.

Em Portugal, 62 por cento são analfabetos no que concerne a cuidados, promoção de saúde e prevenção de doenças. O Norte é o que apresenta piores valores nestes capítulos.

Com a participação de uma centena de profissionais e estudantes de saúde, o Seminário justifica a sua oportunidade no facto de o Norte de Portugal ser a região mais analfabeta no que concerne à prevenção, informação e cuidados de saúde.

Este seminário insere-se no Programa Municipal de Promoção da Saúde, ao abrigo do protocolo recentemente celebrado com o ISAVE – Instituto Superior de Saúde.

A iniciativa decorreu no Fórum Municipal Rodrigues Sampaio, em Esposende, reunindo um alargado leque de reputados oradores, que, através de diferentes abordagens, possibilitaram a reflexão acerca desta matéria.

Na sessão de abertura, a Vice-presidente da Câmara Municipal e responsável pelo Pelouro da Saúde Pública, Alexandra Roeger, referiu que este evento se enquadra nas atividades do Mês da Saúde, que o Município está a desenvolver ao longo deste mês, para assinalar o Dia Mundial da Saúde, justamente sob a temática “Literacia em Saúde”.

Alexandra Roeger notou que esta é uma matéria ainda em evolução, não obstante o muito trabalho que vem sendo desenvolvido neste plano. Defendeu, por isso, a pertinência e a importância de apostar numa maior informação e formação dos vários públicos, nomeadamente através de ações concertadas e de parcerias entre os vários agentes associados à área da saúde, considerando que “com o contributo de todos chegaremos a bom porto neste domínio da capacitação dos cidadãos que permitam a adequada tomada de decisões em saúde e, assim, a sua qualidade de vida e bem-estar”.

A Vice-presidente deu nota do vasto e profícuo trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Município e apontou, a título de exemplo, os projetos na área da qualidade e segurança alimentar, não apenas na preparação de ementas nutricionalmente ajustadas e em observância relativamente às mais modernas orientações, mas também na formação das colaboradoras das cozinhas e cantinas escolares.

Referiu também os bons resultados do projeto Hortifuti, que está a ser desenvolvido junto da comunidade escolar e que pretende incentivar o consumo de legumes, bem como o impacto das iniciativas do evento “Março com Sabores do Mar”, evento que contou também com a colaboração do ISAVE, e que envolveram não só a comunidade escolar, bem como a população em geral, numa ótica de promoção de uma alimentação saudável, incentivando ao consumo de peixe.

Referindo-se ao Seminário “Literacia em Saúde”, a Vice-presidente do Município realçou a mais-valia das parcerias e as vantagens do trabalho em rede e manifestou a disponibilidade do Município para abraçar novos projetos.

GERIR FORMAÇÃO SEM ESXCLUSIVOS

Na sessão de abertura, interveio a Presidente do ISAVE, Mafalda Duarte, que saudou o Município pela iniciativa e pela pertinência do debate, realçando o painel de excelência e pluralidade dos oradores.

Mafalda Duarte assegurou que o ISAVE quer responder a este desafio que se coloca a todos: “ promover capacidades cognitivas e sociais para que as populações padeçam de mais e melhor saúde”. Para tal é necessário “capacitar os técnicos superiores área da saúde, contribuindo para a formação âncora no domínio da literacia em saúde”.

Na mesma linha, o Presidente do Conselho Diretivo do ISAVE, João Luís Nogueira, vincou que a literacia em saúde é da maior relevância social, na medida em que contribui para ajudar a população a viver com saúde.

“Trata-se de um tema que “devia envolver mais os jovens e os idosos” — apontou João Luís Nogueira, lembrando que “uma pessoa com saúde dá mais PIB e Valor Acrescentado, porque produz mais e pensa melhor”.

No seu entender, “gerir formação é gerar desenvolvimento”, pelo que é urgente alertar para alguns constrangimentos de modo a resistir “à tentação do monopólio das Ordens que combatem tudo o que é novo e sai fora da Ordem”.

Isto porque “há outros que também sabem fazer saúde que não é um exclusivo de nenhuma Ordem e não podemos ser capturados pela exclusividade”.

Por sua vez, a Diretora Executiva do ACES Cávado III – Barcelos/Esposende, Sofia Leal, afirmou que a literacia em saúde é uma preocupação nacional e um desafio que deverá privilegiar o trabalho em rede, envolvendo diversas entidades e apontou já os exemplos do trabalho que o ACES se encontra a executar nestes domínios.

Este Seminário contribuiu para que os cidadãos tenham acesso, compreendam e usem a informação de forma a que promovam e mantenham a sua saúde e bem-estar, tendo também a capacidade para tomar decisões em saúde fundamentadas, no decurso da vida do dia a dia – em casa, na comunidade, no local de trabalho, no mercado, na utilização do sistema de saúde.

UM PAÍS DE ANALFABETOS EM QUESTÕES DE SAÚDE

Assim, no primeiro painel da manhã, dedicado à promoção da literacia em saúde, Ana Rito Pedro, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, abordou o tema “Literacia em saúde, dos dados à ação”. Esta investigadora definiu conceitos, a começar pela literacia: “capacidade  e competência e uso da informação para aceder a cuidados de saúde, no dia-a-dia, em casa, no trabalho”.

Depois de distinguir as literacias “funcional” (saber ler um rótulo), “Interactiva” (perceber o que o médico diz) e “Crítica” (como é que o meu voto tem impacto na minha saúde), Ana Rita Pedro advertiu que esta forma de analfabetismo atinge mais os que têm “pior condição de saúde, com diabetes, excesso de peso e de sal, os comportamentos de risco e os cidadãos que cuidam menos da prevenção”.

Estas características “aumentam hospitalizações dispendiosas e geram menor eficiência no uso da urgência”, embora não existam dados sobre a iliteracia em Portugal.

Num estudo europeu apresentado por esta investigadora da Universidade Nova, que envolveu mil portugueses, Portugal só é ultrapassado pela Bulgária e ignorância sobre cuidados, promoção e prevenção na saúde. Assim, 62% têm iliteracia, uma vez que apenas 8,4% recebem excelente, 30,1% suficiente, sendo 44,4% problemático e 17% inadequado. O estudo não revela diferenças de género mas a escolaridade reforça a literacia.

Neste estudo, o Norte apresenta os piores resultados, em contraponto com os Açores, surpreendentemente. A Norte, a literacia recebe excelente para oito por cento, 24,5% têm suficiente, mas 42,3% tem uma (i)literacia problemática e 25,4% são analfabetos em questões básicas de saúde.

“A iliteracia dos mais idosos dá um mergulho vertiginoso quando eles são reformados” — assegurou Ana Rita Pedro que lamentou: “os profissionais e estudantes de saúde não diferem muito do nível geral da população” o que é mais grave uma vez que eles “são o veículo de comunicação com as pessoas”. Este dado, levou um dos participantes a lembrar a urgência de “começar pela nossa casa”.

Débora Miranda, da mesma Universidade Nova e Escola Nacional de Saúde Pública, falou sobre a “Estratégia de literacia em saúde adotada no âmbito do programa SNS+Proximidade” para facilitar acesso à informação, melhorar a qualidade de comunicação e equipar as pessoas com ferramentas novas através do portal do Serviço Nacional de Saúde e da www.biblioteca.sns.gov.pt.

Neste site, além de livros digitais, aplicações, podem-se encontrar “dicas” sobre a organização da informação sobre a saúde de cada um em “Diário da minha saúde”.

FERRAMENTAS DISPONÍVEIS E CAMINHOS DE FUTURO

Neste painel foi  abordado a “Biblioteca de Literacia em Saúde”, com a presença de Sofia Leal, Diretora Executiva do ACES Cávado III – Barcelos/Esposende, com livros digitais voltados para os idosos (Tropeções e quedas), jovens (emoções e relações) e a alimentação (Comer, beber e viver).

Sofia Leal deu conta do trabalho de informação — para crianças, jovens e idosos — que é feito em escolas e IPSS.

Num segundo painel foram apresentadas boas práticas em literacia em saúde, nomeadamente o trabalho realizado pelo “Laboratório de Criação para a Literacia em Saúde”, por Hernâni Zão Oliveira, co-coordenador do LACLIS. Este licenciado em jornalismo, aproveitou as ferramentas da comunicação para informar sobre saúde, através de um vídeo já visionado por sete centenas de alunos de Esposende que explica como os pais e os amigos podem lidar com uma criança com cancro.

“Quarenta por cento dos miúdos acredita que o cancro é originado pela gripe e/ou é contagioso” — lembrou Hernâni Oliveira, ao justificar a realização do “Hope”.

Partindo da ideia de que “somos mais um pais de pensadores do que de fazedores e temos de trabalhar para alterar este panorama”, Hernâni Oliveira abordou o programa “Hope” para mulheres com cancro da mama, que usa técnicas da comunicação com a saúde para informar pacientes que não estão predispostas para consumir informação devido “à elevada ansiedade e fragilidade”.

O objectivo do seu trabalho é “criar conteúdos para os actores da saúde, com jogos e linguagem acessível”, mesmo que a “confiança dos cidadãos nas ferramentas digitais de saúde ainda não seja a melhor”.

“O Grau de literacia em Saúde numa amostra de Pessoas Idosas”, foi dissecado por Carla Serrão do Instituto Politécnico do Porto. Este estudo centra-se no Norte do País, entre 2014 e 2018 e envolver 433 pessoas mais 26 profissionais (mas nenhum médico respondeu).

A pior literacia foi encontrada nas viúvas, nas pessoas com baixa escolaridade, mais idosos e nas mulheres, ao passo que os melhores classificados tinha qualidade de vida, menos idade e sem doença.

O estudo permitiu descobrir um agente no sector da saúde que estas pessoas valorizam: “o farmacêutico, um profissional de proximidade e muito importante para as pessoas”.

“As pessoas vão ao médico, acreditam nele mas não o percebem ou questionam” porque existem “uma dificuldade de comunicação. Às vezes, enfermeiro e médico duplicam uns conselhos e ambos esquecem outros”.

Já no período da tarde foi abordado o tema “Desafios e Constrangimentos em Literacia em Saúde”, com a presença de Rita Espanha, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que apresentou o “Inquérito à literacia em Saúde em Portugal: o papel das fontes de informação”, de Luís Saboga Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, que abordou a temática “Promoção da literacia em contextos de saúde” e de Luisa Lima, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que se debruçou sobre “Caminhos a definir no âmbito da literacia em saúde”.

Uma das propostas — sobre as acções nas escolas — esbarra “na angústia dos professores em compatibilizar estas acções de informação com os programas extensos das suas disciplinas”.

É necessário “repensar os conteúdos dos programas curriculares” e as diversas disciplinas “podem incluir temas de saúde. Dá trabalho e obriga a re-estruturar os programas mas este é o caminho”.

Outra proposta apontou para o reforço das técnicas de comunicação na formação de médicos e enfermeiros nas escolas de Saúde. Os profissionais devem aprender a falar com e para os seus pacientes porque a agenda do médico (que gasta mais tempo a olhar para o computador que para o doente) está desfasada da agenda do paciente”.

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